domingo, 1 de maio de 2011

Filho da Violência


Meu nome é José, tenho 10 anos, moro na rua dês dos sete, já morei com minha mãe, que nunca gostou de mim. Ao contrário da minha avó, que se chamava Maria, que brincava e conversava comigo, ela sim gostava de mim. A minha mãe não, ela nunca me abraçou ou me chamou de filho. Ela quase nunca falava. Mas todas as vezes que eu perguntava do meu pai, ela ficava com raiva e sem nenhum motivo me batia muito.

Um dia perguntei a minha mãe se ela tinha raiva de mim. Ela disse que não, tinha nojo; Então disse a ela que tomaria mais banhos para que ela não tivesse mais nojo. Me lembro que perguntei a minha avó sobre meu pai e ela disse que ele havia morrido. Eu sinto falta de um pai, então numa ultima tentativa, pedi uma foto dele a minha mãe, que gritou comigo dizendo que eu não tinha pai. E que nunca mais deveria perguntar sobre ele, que eu não deveria ter nascido, que fui um erro, uma desgraça na vida dela. Que eu era somente o filho da violência.
Eu não entendi por que ela  tava brigando tanto comigo, fiquei triste, chorei muito por ela ter dito que não queria que eu tivesse nascido. Dias antes da morte da minha avó, ela me falou que eu já era quase um rapazinho e ia entender o que ela estava tentando me dizer.

Maria - Quando sua mãe era mais jovem, eu morava com meu ex-marido, seu avô. E ele bebia muito e às vezes batia na vovó e na mamãe.Um dia percebi que sua mãe estava grávida; Mas não sabia quem era o pai, porque ela não queria me contar. Desconfiei que o comportamento dela mudou muito com o pai, fingi que ia sair e deixei os dois sozinhos em casa, fui até o fim da rua e voltei. E encontrei o seu vô ameaçando me matar se ela contasse a mim que a forçou a ter relações.
José - Então o meu avô é meu pai. E minha mãe é minha irmã?
Maria – Sim, ele forçou sua mãe a engravidar.
José – É por isso que ela não gosta de mim?
Maria – É porque você se parece muito com ele
José – E onde esta meu avô? ou meu pai, sei lá.
Maria – Esta preso, sua mãe queria fazer um aborto, eu não deixei.

Após isso, em pouco tempo, minha avó morreu e eu fugi sem destino. Hoje quando me perguntam quem são meus pais, eu respondo o desprezo e a violência. E se perguntam sobre aborto. Acredito que preferia ter sido um aborto, do que ter
uma vida infeliz.


Foto: MAURILO CLARETO Livro CIDADÃO DE PAPEL do autor: GILBERTO DIMENSTEIN / - Prêmio Jabuti de 1994/ sobre a infância, a adolescência e os Direitos Humanos no Brasil.

8 comentários:

  1. que emocionante, é muito interessante seu blog, já estou o seguindo, continue a visitar o meu também, inclusive queria pedir para ver esse post: http://monteolimpoblog.blogspot.com/2011/03/as-experiencias-medicas-nazistas.html e deixasse a sua opinião, obrigado. Adorei seu blog!

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    1. Valeu Gabriel França, vou ver e segui o seu também com certeza.

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  2. Fala Rony, vim conhecer o seu espaço, muito bom, gostei, é inteligente e interessante. Já estou seguindo!

    Abraço

    http://khitmutgar.blogspot.com/

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    1. Blz Affonso, valeu, também vou conhecer seu blog e segui-lo...

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  3. Obrigado por me seguir ,ja estou te seguindo de volta.

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  4. Oi, Rony! Gostaria de esclarecer e dar o devido crédito ao autor da foto postada e que diz ser do grande Gilberto Dimenstein, mas que, na verdade, é do extraordinário MAURILO CLARETO, repórter-fotográfico de maior gabarito nacional e internacional. Peço-lhe que poste a correção, lembrando que o Dimenstein é o autor do livro. Obrigada e sucesso! Abraço.
    Maria Valéria Lucas - Pedagoga

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  5. Obrigado Maria valéria Lucas. Foi difícil encontrar as fontes sobre esta foto do Maurilo, que só encontrei neste livro; Cidadão de papel, que li na minha infância no tempo da escola, onde aprendi logo cedo sobre ética e cidadania, que contribuíram muito para o desenvolvimento do meu carater! Abraço...

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